Muitos
pensam que apenas coleções de obras de arte famosas podem contar com o seguro,
mas isso não é verdade. Os museus, galerias e instituições podem proteger suas
peças tanto quanto um colecionador particular pode fazer o seguro do que, para
alguns, é um hobby, mas para outros é uma paixão.
Para saber um pouco mais como funciona o mercado de seguro de obras de
arte e coleções, a Revista Apólice conversou
com Christiane Fischer, CEO da AXA Art Américas. “Carregamos a arte em nosso
nome, mas fazemos seguros para além das pinturas e esculturas. Nós seguramos,
basicamente, tudo aquilo que pode ser colecionado”, afirmou a executiva. Na
carteira de arte da companhia há moedas, selos, memorabilias esportivas,
coleções de grandes times de esportes e até mesmo algumas bengalas. O negócio é
mundial e chegou ao Brasil há quatro anos.
Como funciona o mercado
Por aqui
ou em qualquer outro lugar, os negócios são bastante similares. As coberturas
das coleções, em geral,são apólices all risk, com exclusões
são mínimas e bastante específicas para cada lugar. “Terrorismo, por exemplo, é
um risco excluído aqui e não é em outras partes do mundo; mas também existem
algumas exclusões que são globais, como a confiscação das obras pelo governo, por
exemplo”, explica Christiane.
Em termos
de sinistros também há peculiaridades. Nos EUA ou no México, por exemplo, há
muita ocorrência de terremotos, furacões, tempestades etc e essas são grandes
fontes dos danos causados às obras e por lá são contratações essenciais,
diferente do Brasil, onde esses fenômenos não acontecem. Mesmo assim, o momento
de alerta máximo fica por conta do transporte dessas peças, quando elas são
levadas para exposições ou voltam para seus donos. Esse é, de fato, o momento
no qual a maioria dos sinistros ocorre, pois elas estão mais vulneráveis.
“Nós temos
sorte, porque os roubos não são uma grande preocupação, na verdade. Muito
porque as casas de pessoas que colecionam essas obras, assim como as
instituições, galerias e os museus são muito bem protegidos. Há também o fato
de que as artes não sendo muito visadas para roubo porque é algo muito difícil
de revender”, conta a especialista. Inclusive, há um banco de dados mundial
onde as obras de artes roubadas ficam cadastradas, facilitando a identificação
de uma tentativa de venda que não parta do proprietário.
As
falsificações podem acontecer, mas também são raras. Como a companhia possui
muitos especialistas, é difícil que alguém surja com uma obra falsa e passe
despercebido, mas Christiane não nega que é possível que isso aconteça e que,
provavelmente, peças falsas já podem ter sido seguradas em meio a uma grande
coleção. “Não conseguimos ser tão precisos em cada obra, individualmente.
Então, pode acontecer. Mas tentamos ser muito cuidadosos e procurar pelo
histórico da peça, saber com quais tipos de galerias o colecionador trabalha,
se ele tem referências etc”, conta sobre o gerenciamento de riscos do mercado.
Já os sinistros por perda e roubo que acabam sendo fraudes são mais difíceis de
detectar, pois é muito difícil dizer, com precisão, se o colecionador realmente
foi roubado ou perdeu, de fato, a peça de sua coleção.
O seguro é
importante porque ele parte, geralmente, de quem o coleciona. Muitos museus no
Brasil, por exemplo, não fazem um seguro para o acervo que possuem, mas fazem
para suas mostras e exibições. Isso porque elas vêm de outras localidades
sujeitas a uma série de fatores garantidos pelo seguro.
O preço é
pelo todo. A companhia não trabalha com cada peça separadamente e fica atenta
às condições gerais, como se a coleção é muito frágil ou muito antiga, daí se
tira a precificação do seguro. Para serem seguradas, as coleções precisam ser
avaliadas em, no mínimo, R$ 350 mil. Sobre o valor máximo, como
brinca Christiane, “o céu é o limite”.
De maneira
geral, o valor é ligado a quanto o colecionador pagou pela peça. Se ela foi
comprada por R$ 1 milhão, o seguro será feita por esse valor, sempre
respeitando as alterações de mercado, as valorizações que as peças têm ao longo
dos anos. É o chamado valor atual de mercado. Para essa avaliação, a AXA Art
conta com colaboradores internos especializados que vão até essas coleções e
dão o preço final. Quando uma coleção chega à companhia, especialistas estão a
postos para reconhecer e precificar as obras e objetos – 60% dos colaboradores
desse nicho têm experiência no mercado de arte. “É muito mais fácil você
trabalhar com alguém que já conhece a arte e ensiná-lo a técnica, do que fazer
um técnico entender a arte”, comenta.
Caso uma
nova peça chegue à coleção, ela está automaticamente segurada, pois há um valor
extra de 25% da cobertura para elas. Então, o segurado pode adquirir novos
objetos, tendo até 60 dias para informar a seguradora e ela fazer a adição e o
aumento dos valores da apólice.
Corretores de arte
Por ser um
mercado especializado, assim também são os corretores. São eles que levam os
negócios novos à companhia. Por isso, Christiane conta que as visitas e o
relacionamento com esses profissionais é bastante próximo e constante e, embora
seja preciso apreciar e aprender como o nicho funciona, qualquer corretor pode
trabalhar com seguro para obras de arte. “Eu diria que as instituições,
galerias, sim, procuram corretores já especializados, mas muitos colecionadores
privados recorrem aos corretores que eles já conhecem, com quem fazem seus
seguros de automóvel, residência, vida etc, para fazer o seguro de obras de
arte”, conta a executiva.
Sendo
assim, não há motivos para ficar intimidado só porque o mercado parece algo
complexo e distante. É trabalho da seguradora treinar, preparar e ensinar os
corretores que querem investir nesse nicho e é ela que conta com os experts que
são capazes de tirar as dúvidas e explicar coberturas e demais detalhes da
apólice. A própria Christiane, vinda do mercado financeiro para o mundo de
seguros e arte, aprendeu com o tempo, com as experiências. Ela afirma que
trabalhar no mercado de arte tem muito mais a ver com sentir, ter intuição. A
parte técnica, segundo ela, é mais fácil de aprender.
O mercado de arte no Brasil
Embora a
chegada seja recente, Christiane diz que o mercado no País é promissor e que
tem sido um ótimo ano para a companhia no desenvolvimento de sua reputação
nesse nicho, construindo o relacionamento com corretores. “No começo, você quer
ir devagar, ter a certeza de que está lidando com bons riscos”, afirma a
executiva – que começou sua exploração artística no Brasil por São Paulo
e Rio de Janeiro, locais com mais demanda para o produto, mas que não descarta
expandir a atuação para outras cidades como Belo Horizonte, Brasília e
Fortaleza.
Cada país
com sua arte. No Brasil, a representante afirma ter encontrado boas coleções –
como peças do século XX – e que já consegue reconhecer trabalhos de
brasileiros, citando a artista carioca Fernanda Gomes como uma de suas
preferidas. Há muitas peças seguradas dos anos 40,50 com referências
modernistas, especialmente móveis no mercado brasileiro.
Essas
coleções são montadas a base de paixão. Mesmo que os sejam investimentos, que
possam se valorizar e valer uma fortuna em algum tempo, o que se percebe em
comum no perfil dos colecionadores ao redor do mundo é que eles têm adoração
pelos objetos que colecionam. Essa similaridade tem internacionalizado o
mercado. Colecionadores de todas as partes do mundo compram peças de todas as
partes do mundo. “É maravilhoso ver o crescimento dessa conexão internacional
no mundo da arte”, comemora.
Mas nem o
berço da civilização ocidental tira o posto dos EUA de maior mercado mundial de
arte. 65% dos negócios da companhia nesse nicho estão lá, seguido por Alemanha
e França. Os americanos, nesse mercado, são aproximadamente cinco vezes maiores
do que todos os países da Europa juntos.
Comparado
a isso, o mercado de arte no Brasil ainda é bastante pequeno, mas cresce. Pelo
histórico de crescimento da AXA Art, é possível notar que esse aumento vem não
só de migração de clientes de outras seguradoras, mas também de colecionadores
que não tinham seguro e daqueles que começaram a reunir obras e objetos agora.
O nicho
promete se tornar uma alternativa viável até mesmo para que corretores expandam
sua atuação e ofereçam coberturas que muitos ainda desconhecem. Mas Christiane
faz um alerta: para quem pretende priorizar a carreira dentro da indústria do
seguro será difícil conciliar com outras carteiras, os corretores que entram
para esse nicho também costumam se apaixonar.
Fonte: Amanda Cruz
Revista Apólice
Compilação:
Carlos BARROS DE MOURA
EXPERTISE EM SEGUROS