RIO - Aparelhos de celular Galaxy S9 da Samsung que
foram roubados no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, no domingo, 15, estão
sendo oferecidos pelas redes sociais por R$ 3 mil - bem menos do que os R$ 4,5
mil sugeridos pelo fabricante. A carga levada por criminosos estava
avaliada em US$ 1 milhão (R$3,4 milhões).
Quem passa pela saída da Estação Uruguaiana do
Metrô carioca, no centro do Rio, também se deparada com venda de celulares por
preços inferiores aos praticados no mercado regular, como iPhones. Lá, o
vendedor diz que não tem nota fiscal do aparelho, mas garante que o produto não
é roubado. "Vem direto da fábrica, por isso é mais em conta",
explica, sem muita convicção. O comércio de aparelhos - muitos novos, com suas
caixas, expostos em banquinhas - é corriqueiro. Nem a polícia nem a Guarda
Municipal perturbam os vendedores.
Segundo o Sindicato de Empresas de Transporte
Rodoviário e Logística do Rio (Sindicarga), boa parte dos aparelhos oferecidos
em camelôs e online é, na verdade, fruto de roubos de carregamentos de
celulares.
Somente nas últimas duas semanas, a Polícia Civil
registrou pelo menos dois grandes roubos de celular no Rio, cujo valor total
soma R$ 6 milhões. O último caso foi no domingo, 15, quando criminosos
invadiram o terminal de carga do Aeroporto Internacional do Galeão e levaram R$
3,4 milhões em aparelhos do novíssimo Samsung S9. A Polícia ouviu na
quinta-feira, 19, o depoimento de funcionários do terminal.
Na quarta-feira anterior, uma carga de iPhones
havia sido roubada na zona norte, nas proximidades do aeroporto, num valor de
R$ 2,4 milhões. Ambas foram levadas para a favela Nova Holanda, no Complexo da
Maré, a menos de cinco quilômetros do aeroporto, como mostraram rastreadores
dos próprios aparelhos. Embora a polícia soubesse para onde as cargas tinham
sido levadas, nada foi feito.
"Em pouco mais de uma semana, foram mais de R$
5 milhões em celulares roubados levados para dentro da Maré pelos
bandidos", constatou o diretor de segurança do Sindicarga, o coronel da
reserva Venâncio Moura. "Os aparelhos já estão sendo oferecidos online e a
gente não vê uma ação efetiva."
Segundo o coronel, a polícia não entrou na favela
porque não tinha homens nem material adequado para fazê-lo.
Procurada
pelo Estado, a Polícia Civil não quis se pronunciar sobre o caso. Especialista
em segurança pública e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope),
Paulo Storani explicou que a Polícia, de fato, não tem como entrar numa
comunidade violenta para tentar recuperar uma carga roubada, mesmo sabendo onde
ela está.
"A sociedade precisa entender que não existe
má-vontade do comandante do batalhão da área ou do policial", sustenta
Sartori. "Para agir, para entrar numa favela e enfrentar criminosos
armados, a polícia precisa considerar alguns fatores, como a segurança dos
moradores - os horários em que as pessoas estão saindo ou voltando do trabalho,
os horários de entrada e saída das escolas - e também dos próprios policiais.
Para entrar numa comunidade dominada, a Polícia precisa de blindados, que estão
parados por falta de manutenção. Então, entre ser considerado inepto ou
assassino, o comandante vai preferir ser inepto, é uma escolha."
A tendência a médio prazo, diz Storani, é o colapso
do sistema. De fato, números divulgados esta semana pelo Instituto de Segurança
Pública (ISP) mostram que, mesmo com a intervenção federal na segurança em
curso, o mês de março registrou o maior número de roubos de carga de toda a
série histórica, iniciada em 1991, um total de 917.
Considerando todo o primeiro trimestre deste ano,
foram 2.636 roubos de carga no Rio - cerca de 30 por dia. Isso ocorre, segundo
Storani, pela redução de efetivo da Polícia Militar e a consequente queda na
ações de prevenção. Além da questão geográfica: as principais vias de acesso e saída
do Rio passam no meio de diversas comunidades.
Desde 2014, explica ainda o coronel Venâncio Moura,
os traficantes resolveram diversificar e passaram a roubar cargas.
"As cargas mais visadas são as de gêneros
alimentícios", explicou Moura. "Depois vêm bebida, celular e
cigarro." Segundo ele, uma parte grande dessa mercadoria roubada é vendida
dentro da própria favela e, outra, no mercado informal. "Mas a verdade é
que não tem muita lógica. "Esses caras são os piratas do século XXI, eles vão
pro asfalto e roubam o que passar. Outro dia, levaram um carregamento de
caixões, esta semana teve um caminhão de gelo."
NOTA: Em bancas de camelôs do Rio também é possível
encontrar iPhones abaixo do preço praticado no mercado
FONTE: 20 Abril
2018 Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo
COMPILAÇÃO: Carlos
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